Amanhecemos




Exilado I

Que saudade do meu violão
De sua madeira e seu cheiro
Saudade do seu peso e do seu som
Suas cordas macias
E seu braço sempre enriste
Tocá-lo e voltar a cantar como antes
Utilizando-o como instrumento
Mas impulsionado pelo coração.

(João Petrillo)



Lua

vem girando a renda
e sai do mar
prateando minha juba
convidando para o canto
e para dança beira-mar
brinca na areia
suas colegas de bordel
já diria João Bosco.
A lua cara cheia
com seu sorriso etéreo
vasculha os poemas
dos meus cachos
e eu sou vinícius
tentando-a seduzir
muitas luas viajam
nas curvas do corpo
e drummond não saberia
compreender,
mas lua é lua
porque não se pensa pessoa.
(Luis Gustavo de Oliveira)





Transitória

A vida é uma rosa que o tempo despetala.
Prefiro comer caqui fora de época
enquanto soa o sino antigo em um haikai.
Minha casa é um templo de mutações
ornada por lírios,
nadeshikos e violetas.
Uma casa fora das horas
porque o I Ching me contou,
um dia enquanto me confundia a poemas,
que a mesma rosa que o tempo despetala
não morre, mas renasce
na lua nova de maio
a cada ciclo da existência.

(Michelle C. Buss)






Mesmo longe,
atitude
faz de perto

sem perceber e percebendo
por detrás dos óculos
e de frente pra eles
mentes interligadas
e personalidades esquivas

de perto,
um copo, um bloco
um lápis
raízes paternas
e várias histórias num desenho
um degrau da escada pra dividir algo
novo
e antigo ao mesmo tempo

um grande pulso,
em forma de gratidão

guardado em gestos e
palavras

prontas pra completar
mais uma parte.

(Marina Lange)





Nota de Viver

a utilidade da poesia é igual
a de uma nuvem alaranjada,
a de um tapete de folhas mortas
deixando o outono mais outono.
são coisas que brotam alegria pro mundo,
que fazem azul nossa alma ilhada.
se é pra existir seja por isso:
o espantamento que mora no simples,
a canção que os olhos escutam.

(Silvério Bittencourt)




 







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